quarta-feira, 14 de julho de 2010

Rumos da Hotelaria

Novos Rumos da Hotelaria
Do Pouso Tropeiro aos hotéis superluxo, reina majestosa a hotelaria nacional.

Do século XVIII (1870) quando se adotou o Primeiro Sistema de Classificação, em 5 categorias (*), no país ao atual sistema de classificação gerenciado com responsabilidade compartilhada entre o Ministério do Turismo e a ABIH Nacional-Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, a Hotelaria Brasileira vem experimentando conceitos que vão da administração domiciliar aos modernos sistemas de gestão. Da ostentação do luxo 5 estrelas à praticidade e preços enxutos dos hotéis econômicos e supereconômicos, um novo perfil aos poucos vai sendo delineado.

O primeiro Sistema de Classificação

* 1ª Categoria Simples pouso de tropeiro.
2ª Categoria Telheiro coberto ou rancho ao lado das pastagens.
3ª Categoria Venda, correspondente a "pulperia" dos hispano-americanos, mistura de venda e hospedaria.
4ª Categoria Estalagens ou hospedarias.
5ª Categoria hotéis.
Sistema Atual

Categoria
Símbolo

Super Luxo
SL
Luxo

Superior

Turístico



Voltando aos primórdios temos na capital paulista em 1870, muitos hotéis. O brasileiro, que antes ignorava a precariedade dos “pousos”, enxergando o rudimentar segmento como algo exótico, voltava seus olhos somente para a Europa, cenário recomendado na época para férias e lazer dos endinheirados, nos últimos anos do século já começa a experimentar os hotéis tradicionais, porém mediante carta de apresentação. A cidade de São Paulo, ainda em sua formação inicial de urbanização, o “Triângulo Central”, teve seus principais elementos hoteleiros localizados próximos à Faculdade de Direito e às Estações Ferroviárias da Cidade. Um dos mais notáveis deste período foi o Grande Hotel, construído por encomenda do alemão Frederico Glete, na Rua São Bento, esquina do Beco da Lapa (atual Rua Miguel Couto).Inaugurado em 1878 era considerado, conforme descrição de Antônio Rodrigues Porto, “o melhor hotel do Brasil”.

Este hotel assinala, a inauguração no Brasil do primeiro hotel de luxo ao sabor Europeu. Ocupava todo um quarteirão: Beco da Lapa, rua de São Bento até a rua São José, hoje Libero Badaró. Em 1964, foi demolido, dando lugar a um edifício comercial, e deixando sem dono um marco da hotelaria brasileira.

Nos anos seguintes, a hotelaria paulistana continuou a se expandir, sempre a partir da região central. Na década de 20 a capital paulista ganhou o Hotel Terminus (localizado na Avenida Prestes Maia, onde está o Edifício da Receita Federal) com mais de 200 quartos e também o então moderno Hotel Esplanada, hoje sede do Grupo Votorantin, com 250 quartos, próximo ao Teatro Municipal que compunha o mais belo postal da época. Neste cenário, onde luxo e requinte eram palavras de ordem, a elite paulistana tinha como principal ponto de encontro.

Outro importante exemplo da produção arquitetônica da década de 20 é o Hotel Central. Um marco da época estava instalado num prédio histórico de autoria de Ramos de Azevedo que era considerado um dos mais importantes arquitetos de São Paulo no início do Século XX. Localizado na Avenida São João, o edifício projetado e construído em 1915 foi uma das mais expressivas obras da capital à época, simbolizando um período de crescimento da cidade. É o primeiro hotel de quatro pavimentos na capital, segundo fonte do próprio hotel. Neste período de grande produção cultural, São Paulo ganhou ainda o Center Hotel, abrindo caminho para a época da modernidade, na cidade que já despontava como metrópole.

A década de 1920 ganhou forte expressão também na capital fluminense. A cidade que já experimentou em seu berço a vocação para o turismo, em 1922 vivenciou com a inauguração do Hotel Glória, com mais de 700 apartamentos, o início de uma época de franca expansão, que resultou, entre outros empreendimentos, na inauguração do Copacabana Palace (1923), construído pela família Guinle, segundo se comenta a pedido do presidente Epitácio Pessoa. O francês Joseph Gire assinou o projeto, inspirado no Hotel Negresco de Nice e no Hotel Carlton, de Cannes, ambos na França. Pertencente hoje à Cadeia Orient Express, o imponente hotel continua reinando majestoso em Copacabana, tendo passado há algum tempo por um retrofit que lhe devolveu todo o seu glamour e lhe acrescentou extrema modernização.

Na década de 40, temos um período profícuo ao desenvolvimento de grandes hotéis, com destaque para os hotéis cassino como o Parque Balneário, em Santos; o Grande Hotel de Poços de Caldas, o Grande Hotel Hotel de Araxá, o São Pedro e o Quintandinha em Petrópolis. Mas a proibição dos jogos de azar, por Getúlio Vagas, em 1946, viria a conter esta franca expansão e desencadear uma crise no setor. Muitos dos imponentes hotéis da época fecharam suas portas ou foram reestruturados. Neste exato momento, era incontestável a posição de São Paulo na supremacia nacional, e isto influenciou na hotelaria que ganhou nova tipologia baseada na verticalização ou na localização na malha urbana.

Em 1954, a cidade ganha, junto ao Viaduto do Chá, o então gigantesco Hotel Othon Palace, hoje São Paulo Othon Classic, o primeiro empreendimento da família Bezerra de Mello na capital paulista, com 26 andares e completa infra-estrutura que fez dele uma referência por anos seguidos, talvez até 1971, quando chegou Primeira Cadeia Hoteleira Internacional no País, com a inauguração do São Paulo Hilton Hotel, na Av. Ipiranga, hoje desativado, marcando a mudança no sentido de uma administração profissionalizada na hotelaria brasileira. Na mesma categoria, surgem o Sheraton e o Méridien no Rio de Janeiro, enquanto grupos como a francesa Accor, a espanhola Meliá e o Club Mediterranée, no mesmo período, iniciam uma forte consolidação de suas respectivas marcas. Ao mesmo tempo pelo interior do país e no litoral do Nordeste surgem inúmeras construções de hotéis independentes, sendo o Hotel Jatiúca, em Maceió, um dos destaques.

A efervescência dos anos 70

O grupo francês Accor iniciou suas atividades no Brasil em 1976, primeiro no setor de alimentação com a Ticket Restaurante. Até 1998, a NHT Hotelaria e Turismo S/A, era o braço hoteleiro do Grupo Accor, tendo, a partir de então, alterada sua razão social para Hotelaria Accor Brasil, controlada pelos Grupos Accor /França (50%), Brascan/Canadá (40%) e Espírito Santo/Portugal (10%). No Brasil, hoje, o grupo ocupa a posição de maior operadora do país.

Nesta mesma década observa-se a forte expansão da Rede de Hotéis Othon, e também da Rede Luxor. Outro destaque foi a Horsa, Hotéis Reunidos S/A, que construiu nesta época o Hotel Nacional, super luxo da Praia de São Conrado, no Rio de Janeiro, que então se equiparava ao mesmo padrão do suntuoso Copacabana Palace. Ainda nesta década, a Abril Cultural lançou resorts padrão luxo, sob a marca Quatro Rodas em Recife, São Luís e Salvador, enquanto o Banco Real iniciou a construção do luxuoso Transamérica, em São Paulo e, em seguida na região de Comandatuba, próximo a Ilhéus, o primeiro resort de luxo do Brasil.

A criação da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), a disponibilidade de financiamento de longo prazo (EMBRATUR, FINAME, etc.) e incentivos fiscais (SUDENE, SUDAM) para a construção de hotéis, justificam a efervescência do período.

Nos anos 80, sua excelência os apart-hotéis

Na década de 1980, nota-se uma retração da hotelaria de luxo, para dar lugar ao fenômeno dos apart-hotéis ou flat services, que surgiu como um negócio novo, seguro e viável. Os pequenos e médios investidores puderam então participar de empreendimentos hoteleiros/comerciais, com investimentos baixos e um retorno atrativo do capital. Os efeitos perniciosos da desenfreada expansão seriam sentidos, porém, apenas a partir dos anos 90, quando a superoferta, especialmente em São Paulo, começou a gerar a concorrência predatória e por conseqüência a desestabilização do setor, com diárias médias que não condiziam com as necessidades do setor.

Anos 90
Além das fontes de capital internas, a indústria hoteleira brasileira no final dos anos 90 a atenção do capital estrangeiro, que começou a investir em hotéis no Brasil, primeiramente através das próprias cadeias hoteleiras. Exemplos destes investimentos incluem: a compra da rede Caesar Park pelo grupo mexicano Posadas; a construção do Grand Hyatt em São Paulo, com investimento da própria Hyatt e do grupo argentino Libermann; o Marriott Copacabana com investimento total da Marriott International; o novo Hilton em São Paulo, construído pela Hilton International; e o Grupo Pestana de Portugal que adquiriu quatro hotéis em Salvador, Rio de Janeiro, Angra dos Reis e Natal.

A virada do século

A virada do novo século assinala o fechamento de vários hotéis tradicionais.. Por outro lado, marca a inauguração de diversos hotéis: em São Paulo (Meliá, Inter-Continental, Renaissance e Sofitel), em Belo Horizonte (Ouro Minas), em Porto Alegre (Sheraton), em Pernambuco (Blue Tree Cabo de Santo Agostinho e Summerville) e em um novo destino turístico na Bahia, o Costa do Sauípe Resort com cinco hotéis de luxo. Na cidade do Rio de Janeiro, que já contava com uma grande oferta de hotéis, foram feitas as reformas de importantes propriedades como o Copacabana Palace, Le Meridien e o Sofitel Rio Palace. Ainda, em abril de 2001 foi inaugurado o Marriott Copacabana, o primeiro hotel de luxo a ser construído no Rio de Janeiro desde a década de 70.

Os apart hotéis também continuaram em franca expansão.
Porém, um problema com apart-hotéis é que a decisão do desenvolvimento de uma nova unidade não é derivada do real crescimento da demanda hoteleira, mas sim da conjuntura do mercado imobiliário. O incorporador do apart-hotel, na maioria das vezes, investiga principalmente se existe a demanda para compra de imóveis, mas não busca se certificar de que haja a necessidade de uma nova unidade hoteleira dentro daquele determinado mercado. Este procedimento fez com que alguns mercados (como é o caso de São Paulo e Belo Horizonte) caminhassem para uma super oferta de apart-hotéis, prejudicando a performance geral do segmento hoteleiro.

A chegada do novo século assinalou mudanças para a hotelaria de "primeiro nível”, que aos poucos foi saindo da região da Avenida Paulista, em direção a região da Marginal de Pinheiros e imediações da Av. Berrini, que se tornou um dos espaços mais cobiçados pelos grandes investidores, que apostam na tradição e nome das redes hoteleiras internacionais.

Por outro lado, a hotelaria executiva espalha-se também a outros pontos da capital paulista: como Vila Olímpia, no Itaim, Avenida Faria Lima, Moema, Higienópolis, Tatuapé, Alphaville, Jardins, Jardim Europa, Brooklin Novo, Ibirapuera e até na Vila Guilherme e Tatuapé. Tudo indica ainda que regiões de Alphaville, Campinas e Guarulhos se tornarão pólos hoteleiros tão importantes quanto alguns bairros tradicionais da capital.

Grupos Internacionais querem investir forte no Nordeste

Os nichos explorados são bem distintos. De um lado, o luxo continua ganhando espaços e adeptos. Grupos portugueses, como Vila Galé e Espírito Santo, o espanhol Iberostar, o italiano Orissio, o jamaicano Superclubs, a francesa Accor, e norte-americano como Marriott, prometem investir forte no nordeste. Na Bahia, a grande concentração está nas praias entre Salvador e Sauípe, com destaque para os empreendimentos na Praia do Forte, em Interlagos e Arembepe, em Guarajuba, em Imbassaí e em Sauípe.

Em Pernambuco, as atenções devem se concentrar na região a sul de Recife, nas praias de Cabo de Santo Agostinho, Muro Alto e Porto de Galinhas com empreendimentos consagrados como o Blue Tree, o Nannai e o Summerville e os novos Marulhos Parthenon Resort da Queiroz Galvão, o SuperClubs Breezes da Moura Dubeux, o Resort Ipojuca de grupo português, o Ancorar Resort da Acon Construções e os projetos em andamento na Casa do Governador, provavelmente com o grupo português Espírito Santo, e os hotéis mais antigos de Porto de Galinhas.

No Ceará, especialmente na capital e no litoral leste, muitas novidades devem surgir. Há seis protocolos de intenção assinados com o governo estadual, envolvendo capital português, que deverão lançar novos empreendimentos até 2007, representando um aporte inicial de US$ 500 milhões, entre eles o Projeto Turístico Praia Bela Resort Village em Aquiraz, o Projeto Fortim, o Complexo Parque das Falésias, do Grupo Oásis, o projeto do Complexo Turístico Praia do Farol, em Camocim e o projeto do Complexo Hoteleiro Vale das Nascentes, na Praia das Fontes, em Beberibe.

No Rio Grande do Norte, o destaque é para o Projeto Pitanguy a 60 km a oeste de Natal. No litoral leste de Natal, além dos empreendimentos da Via Costeira, destacando-se resorts do grupo português Pestana, do grupo espanhol Serhs e do Senac, há também empreendimentos menores Ponta Negra sendo realizados por portugueses, espanhóis e italianos.

Em Alagoas, no litoral norte, concentram-se os investidores italianos e outros europeus. O maior destaque é o Projeto Onda Azul, localizado em Barra de Camaragibe, a 90 km a norte de Maceió, que terá um Grand Hyatt Beach Resort, e investimento da ordem de US$ 170 milhões.

Sergipe e Paraíba também começam a despertar o interesse dos investidores, devido à alta dos preços dos imóveis nos estados vizinhos do Nordeste; Maranhão, Piauí e Pará também começam a despontar para os investidores, enquanto no Amazonas há diversos projetos de hotéis de selva em andamento, navios, como o do Iberostar, que são verdadeiros resorts.
Em termos de distribuição geográfica, os investimentos portugueses no Turismo, como se pode observar, privilegiam a Região do Nordeste Brasileiro, com destaque para os Estados do Ceará, Bahia e Rio Grande do Norte, merecendo ainda referência os Estados de Pernambuco e da Paraíba. Têm ainda interesse estratégico alguns investimentos turísticos efetuados na Região do Sudeste, nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, e na Região do Sul, no Estado do Paraná – Curitiba.

HILTON AMAZON ECO LODGE

O próximo projeto da Rede Hoteleira Hilton para o Brasil, em fase de construção, é o Hilton Amazon Eco Lodge, situado a 180 km de Manaus, no município de Novo Airão, uma área estritamente protegida por leis ambientais.
Com 196 quartos, o empreendimento - localizado às margens do Rio Negro, no município de Novo Airão. Trata-se de um exclusivo resort cinco estrelas situado no coração da Floresta Amazônica, no Brasil – o primeiro do gênero a ser operado por uma rede de hotéis internacional.

Outra importante rede que também está apostando na Região Norte do país é a Blue Tree que já assinou contrato para lançar seu primeiro empreendimento hoteleiro nesta região. O projeto, que será construído em Manaus, é resultado de uma parceria firmada entre a rede hoteleira e a Incorporadora Senso Engenharia, de Manaus (AM). Com inauguração para 2008 e investimento previsto de US$ 7 milhões para sua construção, a expectativa é que o empreendimento receba muitos turistas dos Estados Unidos e da América do Sul.

E por falar na Blue Tree, vale enfatizar que, seguindo passos da Rede Othon, atualmente a única rede nacional com presença no exterior, recentemente a rede assinou contrato com o grupo peruano Corporación Custer SA para lançar seu primeiro empreendimento no mercado internacional: o Blue Tree Park Paracas Spa Resort, que será construído na cidade peruana de Paracas, ao sul de Lima. “Continuaremos atentos a oportunidades em destinos no exterior com alto potencial turístico e que possam levar a bandeira Blue Tree”, disse a presidente da rede, Chieko Aoki.

Hotéis Econômicos

Por outro lado, a hotelaria econômica e supereconômica, também mostram a que vieram. Com diárias 50% mais em conta, os hotéis econômicos e supereconômicos surgem como alternativa aos luxuosos, sem abrir mão de conforto e qualidade. Opção para visitantes em busca de lazer ou negócios, o empreendimento é também uma saída segura para investidores atrás de rentabilidade no mercado imobiliário. As taxas médias de ocupação oscilam de 70% a 98% em mercados como o paulista, gerando ganhos mensais de 1% a 1,4%, contra 0,5% proporcionado pelo aluguel de salas comerciais.

Redes que apostam nos Econômicos

Redes Accor (marcas Ibis e Formule 1); Astron Hotéis (Howard Johnson Faria Lima Inn); Atlantica Hotels International (com as marcas Sleep Inn, Comfort, Park inn e Go Inn); Chambertin-Golden Tulip (com a marca Tulip Inn) Intercontinental Hotels Group (com a marca Holiday Inn Express) e Sol Meliá (com a marca Tryp). Com relação as redes nacionais destacamos a Bourbon com a marca Bourbon Express; Hotelaria Brasil com Sol Inn e Superhotel; Intercity, com Intercity Express; Le Canard com a marca Le Canard; Othon, com Othon Travel; Plaza Inn com Plaza Inn e Economic Inn; Slaviero com Slaviero Slim.

As mais novas redes a aderirem ao econômico são a Rede Windsor –RJ (Martinique Copa Hotel – projetado para atender ao segmento econômico do mercado corporativo o hotel localizado em Copacabana foi inaugurado em setembro de 2004.), a Blue Tree Hotels & Resorts com a marca econômica Blue Tree Basic (Blue Tree Basic Curitiba – St. Michel.) e a Portuguesa Pestana, que centrada no turismo de "topo", agora também aposta segmento de "hotel econômico" no Brasil. Com o empreendimento Smart Residence by Pestana, localizado em Curitiba. Hoje o país possui mais de 90 unidades de hotéis econômicos e supereconômicos, sendo a maioria da marca Ibis e Formule 1 da francesa Accor.

*A jornalista Eny Amazonas Bojar é diretora da empresa Amazonas Press Assessoria & Comunicação , assessora de imprensa da ABIH Nacional, editora do News ABIH Urgente, do portal www.vitrinehotel.com.br e do Estudo Raio X da Hotelaria brasileira As Redes Hoteleiras do Brasil (www.raioxhotelaria.com.br).

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