domingo, 30 de novembro de 2008

Desclassificação Hoteleira



Corria a segunda metade dos anos 70, presidência do General Ernesto Gaisel, quando o então presidente da Embratur Said Farah – e fez mesmo - resolveu que iria classificar a hotelaria brasileira e pra isso não mediu esforços e nem perdeu tempo, num único dia, conseguiu tramitar por toda a burocracia ministerial e palaciana e estavam prontas as normas que regeriam a dita classificação hoteleira.
Nós representantes dos órgãos de classe a duras penas conseguimos discutir e propor pequeníssimas alterações na Resolução que trazia os parâmetros da Classificação hoteleira.
A classificação era baseada em três critérios, Os aspectos construtivos, os equipamentos e instalações e finalmente serviços. Era necessário alcançar uma série de pontos em cada um desses itens para obtenção da classificação.
A hotelaria em principio se posicionou contra, pois a classificação vinha com um ranço de imposição, coisa da ditadura política de então.
A seguir começaram então os primeiros ensaios no que se convencionou chamar de classificação provisória, ou seja, o estabelecimento era visitado por um técnico da Embratur, que preenchia um formulário e depois o hotel recebia sua classificação provisória com tempo determinado para apresentar sua aceitação ou oposição, apresentando para tanto, recurso que seria julgado e confirmado ou alterado a classificação proposta.
Depois de marchas e contramarchas, acusações de favorecimento – principalmente no nordeste – discussões e muitas alterações nas normas, chegamos ao limiar de mais ou menos 2.000 (dois mil) hotéis classificados.
Verdade seja dita, apesar da inicial contrariedade, a hotelaria brasileira experimentou uma série de transformações, adaptações e construções para se adaptar as normas vigentes.
O publico em geral e principalmente os hospedes acostumaram-se a tratar a hotelaria pelas estrelas e com base nelas imaginavam o que encontrariam no hotel, sabiam que teria pelo menos o básico de cada uma das categorias, ou seja, de 1 (uma) a 5 (cinco) estrelas.
Os próprios hotéis passaram a ostentar nas suas placas, impressos e material de propaganda as ditas estrelas.
É certo que estavam muito desacreditadas e com isso resolveu a diretoria da Embratur de então extinguir a classificação hoteleira, cassando para isso a constelação estrelar dos hotéis ditos classificados, nas categorias de uma a cinco estrelas.
O que se viu a seguir foram voltas, contra voltas, revoltas e toda a sorte de opiniões dos setores envolvidos. A entidade civil da hotelaria brasileira lançou uma classificação em asteriscos (*), a Embratur acionou a entidade judicialmente, por entender que asterisco é igual à estrela e que as próprias tinham primazia de uso pela estatal.
A confusão então estava formada, ninguém se entendia e por acordo resolveram que a Embratur emitia as normas mas a entidade civil patrocinaria a classificação e ambas dividiriam o resultado do intento.
Vieram então as matrizes que inovaram e acresceram as cinco categorias existentes uma nova ou uma sexta e agora temos o seguinte quadro: 1 estrela – hotel simples; 2 estrelas – hotel econômico; 3 estrelas – hotel de turismo; 4 estrelas – hotel superior; 5 estrelas – hotel de luxo e finalmente a 5 SL estrelas (não seriam seis?) – hotel super luxo.
Para melhor entendimento vamos esclarecer no que diferem os chamados hotéis 5 SL estrelas (ou seis?) do tradicional cinco. No serviço de reservas o 5 comum atende 24 horas com pessoal bilíngüe já o agora conhecido 5 SL com pessoal trilingue e mais o seguinte: possuir telefonista trilingue, o hospede deve poder fechar a conta da própria unidade habitacional, serviço de mordomo, disponibilização de carros de luxo para locação, serviços de locação de helicópteros e por fim que na portaria e recepção o pessoal que trabalha deve falar português e mais três línguas estrangeiras.
Resultado disso tudo é que não temos no Brasil nenhum hotel situado na nova categoria e nem os brasileiros ou mesmo os estrangeiros sabem que ela existe, e no total não passam muito de cem os hotéis classificados e vontade muito perto de zero da hotelaria brasileira para esta classificação.
Então, para quem já teve mais de 2.000 hotéis classificados, podemos afirmar, o que se procedeu foi uma verdadeira desclassificação hoteleira.

Estanislau Emilio Bresolin
Presidente da Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares
e Similares do Estado de Santa Catarina e Advogado

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